21.08.2013

Como tirar partido dos sentidos para ativar nossas melhores lembranças

Mariana Ulhôa

Os ambientes com uma referência familiar ativada pela memória têm a capacidade de estimular uma maior interatividade com espaço. Esta experiência pode se tornar mais agradável através da estimulação dos sentidos. Atitudes simples como ver objetos que lhe agradam, tocar em coisas que deseja, ou ouvir um som que goste, merecem atenção especial da arquitetura do varejo.

Quando visitamos algum espaço como praças, lojas, restaurantes, cinemas, museus, entre outros, independente da sua configuração, de imediato nos identificamos com elementos visuais, sonoros, táteis, olfativos ou mesmo do paladar, e isso demonstra que é possível ativar experiências que tornaram memoráveis. Cada um destes estímulos alcança nossas lembranças e faz com que o observador se sinta mais familiarizado com o ambiente.

O contato visual de algum espaço com formas circulares e cores fortes, por exemplo, e que por algum motivo marcaram a memória de uma pessoa, podem retornar se ela tiver uma experiência em outro lugar no qual nunca esteve, mas que tem elementos muito semelhantes aos já vistos, ainda que tenha um uso completamente diferente. Num primeiro instante, a pessoa pode não relacionar sua experiência vivida com o sentimento de familiaridade no presente, mas depois de um tempo no ambiente, esta memória de relação pode se tornar mais consciente.

Um estímulo muito utilizado em supermercados é o auditivo, onde são tocadas músicas que agradam o gosto do consumidor-alvo deste varejo e o mesmo acaba se envolvendo com o som, remetendo ao que ele está acostumado a ouvir em casa. Esta sensação de familiaridade pode proporcionar um conforto maior, trazer segurança, e deixar o consumidor mais tranquilo e queira permanecer por mais tempo no local.

Um exemplo de uso olfativo no ambiente é uma cafeteria que coloca o forno de fazer pão ou bolo em direção à área das mesas. Todos os dias, no mesmo horário, o cheiro da comida exala no ambiente, e assim quem estiver passando ou mesmo dentro do espaço, de alguma maneira reconhecerá o cheiro e fará referências na sua memória sobre uma refeição gostosa ou de momentos prazerosos.

Este estímulo de querer ficar em um ambiente que se torna familiar pela memória pode transformar o tempo real completamente diferente do tempo percebido. Os dez segundos de uma experiência em um espaço tem a possibilidade de virar um fato memorável por toda uma vida.

*Mariana Ulhôa Cintra Araujo estudou Arquitetura e Urbanismo na Escuela Politécnica de Madrid e se formou Arquiteta pela PUC Campinas